"Pintou estrelas no muro e teve o céu ao alcance das mãos."

terça-feira, 20 de março de 2012


                      ATAVISMO
 Quando estou triste e só, e pensativa assim,
É a alma dos ancestrais que sofre e chora em mim.
A angústia secular de uma raça oprimida
Sobe da profundeza e turva a minha vida.
Certo, guardo latente e difusa em meu ser,
A remota lembrança dos dias amargos
Que eles viveram sem a ansiada liberdade.

     Eu que amo tanto, os horizontes largos,
     lamento não ser águia ou condor, para voar
     Até onde a força da asa alcance a me levar.
     Ante a extensão agreste e verde da campina,
     não sei dizer por que, muitas vezes sentí
     Saudades singular da estepe que não vi.

Pois, até o marulhar misterioso e sombrio
Da água escura a correr seu destino de rio,
Lembra, sem o querer, numa impressão falaz,
O soturno Dnipró, cantado por Tarás...

     Por isso é que eu surpreendo, em alta intesidade
     Acordada meu sangue, a tara da saudade.
                                             Helena Kolody

Nenhum comentário:

Postar um comentário