ATAVISMO
Quando estou triste e só, e pensativa assim,
É a alma dos ancestrais que sofre e chora em mim.
A angústia secular de uma raça oprimida
Sobe da profundeza e turva a minha vida.
Certo, guardo latente e difusa em meu ser,
A remota lembrança dos dias amargos
Que eles viveram sem a ansiada liberdade.
Eu que amo tanto, os horizontes
largos,
lamento não ser águia ou condor,
para voar
Até onde a força da asa alcance a me
levar.
Ante a extensão agreste e verde da
campina,
não sei dizer por que, muitas vezes
sentí
Saudades singular da estepe que não
vi.
Pois, até o marulhar misterioso e sombrio
Da água escura a correr seu destino de rio,
Lembra, sem o querer, numa impressão falaz,
O soturno Dnipró, cantado por Tarás...
Por isso é que eu surpreendo, em
alta intesidade
Acordada meu sangue, a tara da
saudade.
Helena Kolody
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